Estou chocado, mas acho que percebi porque o
Marty Friedman saiu dos
Megadeth e foi viver em uma sociedade diferente da americana, a japonesa.
Ou, se Marty Friedman é tão direitão e paranóico como Dave Mustaine, prefiro não saber. Se for assim Marty, nunca escrevas letras para as tuas músicas.
Os Megadeth, banda (não sei se é bem uma banda porque já teve um monte de formações, sempre transitando Mustaine) que até gosto dos riffs de guitarra, fizeram um disco com uma mensagem absolutamente execrável, contra a ONU. É certo que a ONU tem alguns problemas, relacionados com a corrupção. Mustaine também fala de abusos sexuais. Já se falou muito nisso, aliás.
Mas pegar nisso para ser contra tal instituição e defender a acção directa dos Estados Unidos contra os outros povos, que, na opinião do guitarrista e vocalista, estão se organizando para atacar a nossa civilização, enquanto a ONU perde tempo em negociações, é um enorme passo.
O totó que escreve este texto comprou o cd, inocentemente, depois de ter ouvido as canções.
Quando ia no Metro e voltava para a casa, olhou bem para a capa, com um edifício parecido com o da ONU sendo bombardeado. Associou de imediato ao nome do disco "United Abominations". E aí viu que algo estava errado...
Abri o encarte e li o que estava escrito, uma espécie de declaração de princípios, um texto anti Nações Unidas, defendendo que contra a violência excepcional é justificável medidas excepcionais e outros blá-blá-blás sem sentido. Fiquei na altura preocupado. Até achei que podia ser uma ironia, de tão estúpida e primária que é a mensagem.
Chegado a casa, rapidamente me joguei no mar que é o
Google e descobri que não é nada ironia.
Aliás, parece que foi esta estratégia para Mustaine ser falado no mundo todo.
Porém, a ironia maior é eu ter comprado esta porcaria de disco, que irei, amanhã mesmo, fazer tudo o que for preciso para trocar na FNAC. Trocar por algo melhor, como Alejandro Sanz ou Madonna.
Porque que a música tem que ter letras? Porque Mustaine tinha que fazer esta estupidez? Aliás, agora já soube (no mar Google) que o disco
Peace Sells, But Who's Buying? tinha a sede da ONU na capa.
Bom, agora, já interpretarei com todas as reticências a musicalmente fantástica
Holy Wars (aqui num vídeo em versão de verão, que é só o que pode justificar que todos os membros do grupo estejam de tronco nu - ou senão eram as alterações climáticas já em 1980).
E o que fazer com a absolutamente maravilhosa
Trust, uma música de que é impossível enjoar?
Enfim, estou bastante desapontado.
Devo desaprender os acordes iniciais de
Simphony for Destruction e
Hangar 18? Esta última aqui num vídeo muito engraçado, de tão infantil que é.
Mas é capaz de Mustaine ter tido um problema qualquer. Basta ver o que ele fez com A Tout Le Monde. É comparar os vídeos da
Versão inicial com a
versão Megadeth in the Age of Terror (diz isso no disco novo, na tal comunicação inicial). Na nova versão, apesar de ter pânico dos diferentes, ele usa símbolos da cristandade, uma religião que apela ao amor e respeito ao próximo (e também aos distantes).
Enfim, pode ser que Mustaine acorde e se retracte. Pode ser que veja que não vale a pena ter medo do outro e que as coisas não se resolvem com mísseis e metralhadoras.
Entretanto, talvez o guitarrista das gadelhas louras tenha conseguido voltar a vender um monte de cd's nos Estados Unidos.
Perdeu, para já, um fan na Europa, que inclusive vai devolver o disco, coisa que eu nunca fiz antes. Espero que perca muitos fans mais. É importante para o mundo até, não ter estes discursos de violência contra os povos, feitos por fanáticos.
E perdi uma referência musical.
Aqui, podem ver outra crítica sobre o disco:
http://programaaltofalante.uol.com.br/index.php?master=balaio&sub=cd&ac=2&id=281