terça-feira, 20 de novembro de 2007

Matar primeiro, tentar compreender depois


Faça o que fizer, nunca viaje sem saber a língua do país para onde vai.
Depois de Jean Charles, agora foi Robert Dziekanski a ser ceifado pelo mau entendimento por parte de uma autoridade.
Os polícias devem ter pensado que um "taser" (esta pistola eléctrica da foto) funciona também como tradutor. Como não perceberam o que Robert tinha para dizer (estando ele com um ar visivelmente transtornado), descarregaram-lhe energia eléctrica, numa tentativa de conseguir ligar-lhe os fusíveis do inglês ou do francês. Procedimento curioso (estará numa lei ou numa portaria?). No entanto, desligaram-lhe tudo com o choque - mataram-no.
Infelizmente, mesmo em versão irónica, os factos relatados não tem qualquer graça ou amenização possível. A verdade é que chegamos a um ponto inacreditável e intolerável de desrespeito pelas pessoas. E estamos em pleno Século XXI - com tecnologia, informação e possibilidades técnicas mais do que suficientes para não andar matando inocentes ao primeiro impulso, em nome de guerras que nada têm a ver com as pessoas.
Este é um acto revelador do relacionamento entre os povos que não se compreendem, um relacionamento sobretudo hostil, de captação de recursos sem contrapartidas, de ganância, de não partilha, de atitudes bélicas e não negociais.
Se, ao invés de andar a despejar balas ou electricidade no corpo das pessoas, os governos tentassem descobrir maneiras de, a montante, eliminar os conflitos que geram estes medos, estas agressões, talvez não fosse tão difícil ultrapassar isto. Talvez fosse possível viver em paz.
A opção não é esta.
Os países que se dizem das "democracias ocidentais" decidiram investir na segurança, na desconfiança e na suspeição. E proclamam-se defensores de valores universais de humanidade, que, evidentemente, não têm a mínima hipótese de sobrevivência contra este tipo de ataques, que jamais respeitam referências como a tolerância, a solidariedade e a compreensão.
Enfim, deixo aqui mais uma triste notícia do que querem fazer ao nosso mundo.
Matou-se primeiro para tentar entender depois.

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