segunda-feira, 17 de setembro de 2007

A mala perdida

Há a "bala perdida". E há também a "mala perdida".
A primeira é um drama que afecta alguém e que é perpretado por um anónimo.
A segunda decorre de um incidente praticado diariamente no Aeroporto de Lisboa. Será incidente, se acontece todos os dias?
Infelizmente não deixei um telemóvel, nem sequer um cartão de telefone, para que ela possa me dar notícias sobre o passeio que resolveu fazer. Mas espero que ela esteja bem e que aproveite as roupas e sapatos que leva dentro de si.
Se o seu destino for a Sibéria, tem em seu interior casacos e blusões. Se for para Cancun, pode servir-se de um calção. Se não quiser fazer topless, poderá vestir uma das várias tshirts, inclusive aquela que adquiri no Uruguai, que diz "nuestro norte es el sur".
Fico um pouco preocupado com o facto de ela ocasionalmente viajar para locais onde não esteja habilitada com um visto de entrada ou de trabalho. Será difícil sobreviver se não tiver como vender as roupas que leva ou trabalhar em alguma empresa de transportes. A sua única salvação, em tais casos, será a da adopção por parte de algum habitante do país de acolhimento. Estudar é óbvio que não será possível, devido ao grande preconceito que existe, de que as malas grandes não são boas para levar às universidades, escolas ou bibliotecas. Será difícil obter uma bolsa enquanto se mantiver esta discriminação.
Ainda por cima, ela é uma mala modesta e humilde, não sendo titular de acções em grandes bancos internacionais. Nem sequer tem um cartão de crédito Mastercard, Visa, ou mesmo um de débito Maestro, com o qual possa se manter. Mais valia perder-se se fosse a mala de um doleiro.
Enfim, se alguém encontrar uma mala sem uma alça, que, sem rodeios e fugindo a hipocrisias, é minha propriedade, agradeço que a retenham e tranquem-na num lugar seguro, que até pode ser escuro (pois as malas tem visão noturna - já viram elas perderem de vista o que guardam, mesmo quando dormem naqueles armários super escuros?) e herméticamente fechado (todos sabemos que as malas respiram outros elementos do ar que não o oxigénio, uma vez que são capazes até de sobreviver em lugares onde o ar é rarefeito).
Peço ainda que me comuniquem de imediato o sucedido.
Em princípio ela é uma mala pacífica, pois nunca a vi envolvida com grupos terroristas ou portando literatura subversiva. Por isso, se a encontrarem sozinha em algum lugar, não há motivos para alarme - ela não estará escondendo uma bomba em seu interior, mas apenas roupas e tshirts pacifistas, como a relativa à associação "Tribunal Iraque" ou a da "Attac Portugal" ou ainda a da "Correr com o racismo".
O único alerta que faço é para a questão de que a minha mala tem dupla personalidade. De facto, ela, em suas etiquetas espalhadas pelas alças (que ela prefere chamar de brincos, pois é vaidosa) diz viver não só em Lisboa - Portugal, mas também em Canoas - RS - Brasil.
Além de vaidosa é uma mala extremamente extrovertida, comunicando em seus próprios brincos (!) os seus telefones e endereços.

1 comentário:

helo flores disse...

hehehe...
Muito interessante.
É aquela coisa em que a gente pensa, às vezes, como não fui eu que fiz?(ou quem fez, se fosse escrever direitinho)
Fiquei curiosa com o blog SEM MUROS...mas é só prá convidados, né...

Abração.
Helô (http://helo-floryflor.blogspot.com)