quinta-feira, 7 de julho de 2011

Estética do frio

Comprei o último livro em Porto Alegre. Tem mesmo de ser ou eles vão ficar para trás. Chama-se Satolep e é do Vítor Ramil. Tomara que seja bom de ler. Devo conseguir lê-lo em 2015. Talvez com jeitinho em 2014.
Fiquei muito interessado em ler, por causa do lance dele com a "estética do frio". No sarau o Fischer falou muito nisso. Sobre o papel do Ramil na definição deste conceito. O Ramil procurava defini-lo, especialmente para a música que ele queria fazer e faz. Parece que os uruguaios e argentinos são bastante gratos ao Ramil pela vitalização (já que não é "re") da milonga como música urbana. Coisa que acontece já com o tango, por exemplo.
Por outro lado, parece que Ramil pensou nesta história da estética do frio um pouco antes de um movimento que vai surgindo agora e que engloba a República dos Pampas (arg, uru e rs).
Há um negócio bacana sobre estética do frio, escrito pelo Ramil, na internet. Fica aqui um link e um trecho do texto, que é grande.
Estou em outro junho. Estou no meu apartamento em Copacabana, Rio de Janeiro, de calção e chinelos, assistindo ao Jornal Nacional na TV. Assisto uma matéria sobre uma festa popular na Bahia. As imagens: um trio elétrico sobre um caminhão arrastando milhares de pessoas seminuas, pulando, suando, bebendo e cantando sob um céu furioso. Não consigo me imaginar atrás daquele trio elétrico. Não consigo me sentir próximo do espírito daquela festa, embora esteja igualmente seminú e com calor e a notícia seja apresentada num tom de absoluta normalidade, como se aquilo fizesse parte do meu dia-a-dia. Assisto a seguir uma matéria sobre a chegada do frio no sul. Vejo o Rio Grande do Sul. Vejo os campos cobertos pela geada na luz branca da manhã, vejo crianças escrevendo com o dedo nos vidros dos carros, vejo homens de pala andando de bicicleta, vejo águas congeladas, vejo gente esfregando as mãos, gente de nariz vermelho, vejo a espectativa de neve na serra, vejo o chimarrão fumegando. Seminu e com calor reconheço imediatamente aquele universo como meu. Mas as imagens são apresentadas num tom de anormalidade, de curiosidade, de quase incredulidade, como se estivessem chegando de outro país -fala-se em "clima europeu"-, o que faz com que eu me sinta estranhamente isolado, mais do que fisicamente distante. Tenho a incômoda sensação de estar no exílio e ver, ao mesmo tempo, o Rio Grande do Sul de perto, por dentro e além das imagens. Percebo então o quanto me sinto separado do Brasil.

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