A Perspectiva pediu-me um comentário sobre a visita de Obama ao Brasil. Foi bacana estudar, pensar no assunto e tirar uma síntese mais ou menos objectiva da viagem. Foi difícil, também, conseguir limitar os temas. Ficou assim:
A Perspectiva pediu a Gustavo Behr, advogado e activista da causa dos direitos dos imigrantes brasileiro, um comentário à visita do Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil. O resultado é um excelente retrato do actual momento da relação entre os dois países.
No fim-de-semana que passou, Obama visitou o Brasil, sua primeira escala de visitas a 3 países latino-americanos: Brasil, Chile e El Salvador.
Foi a visita do primeiro Presidente afrodescendente dos Estados Unidos à primeira mulher Presidente do Brasil, Dilma Rousseff. Fora alguns outros simbolismos, a visita teve contornos bem mais pragmáticos, entre questões comerciais e diplomáticas.
A visita pode representar uma reaproximação. Nos últimos anos de mandato de Lula, os dois países afastaram-se, seja pela nova forma como o Brasil passou a encarar o exercício de sua diplomacia, que incluiu, como exemplo de maior desgaste junto dos norte-americanos, o diálogo com o Irão; seja pelo Brasil ter encontrado novos parceiros económicos, perdendo os EUA o lugar de principal parceiro. E Obama e os EUA olham com optimismo para a mudança de presidente no Brasil.
O Brasil tem razões que justificam o esforço de reaproximação dos EUA: o Pré-Sal – as reservas petrolíferas do Brasil, recentemente descobertas – neste momento de grande instabilidade no Médio Oriente, onde estão os habituais fornecedores dos EUA; o mercado brasileiro, a economia que cresceu e as oportunidades que isso cria; os bilhões que serão gastos para a criação de estruturas para a Copa do Mundo (em 2014) e Jogos Olímpicos no Rio (em 2016), entre muitas outras questões, como o interesse em vender aviões F-18 ao Brasil.
Mas é evidente que o Brasil tem interesses e exigências como moedas de troca, entre elas, o desejo de contar com apoios para que ocupe, como membro permanente, o Conselho de Segurança das Nações Unidas. Ainda, o Brasil quer que os EUA eliminem várias de suas barreiras proteccionistas, como as alfandegárias sobre os biocombustíveis brasileiros, como os subsídios agrícolas norte-americanos, como as limitações no comércio de alguns produtos pecuários.
Os discursos, com bastante cautela, tocaram em alguns destes pontos. Agora é esperar o resultado real, que só a acção de ambos os países poderá responder. O pressuposto para esta reaproximação surgir parece ter sido lançado e admitido por ambos os países: o de que as relações entre ambos têm de ser de igual para igual.
Também coincidiu com a vinda de Obama ao Brasil, o início das intervenções militares na Líbia e isso foi objecto de diálogo entre Dilma e Obama. Aliás, foi a partir de território brasileiro que Obama ordenou o ataque dos seus efectivos militares às forças de Kadhafi, uma situação bastante embaraçosa e constrangedora, até pela posição do Brasil quanto ao emprego da força na Líbia. O certo é que, horas depois de Obama ter deixado o país, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil emitiu uma nota apelando ao cessar-fogo imediato das forças da coligação, em coerência com a votação do Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas: a abstenção à possibilidade de uso “todos os meios necessários”, por considerar mais adequada uma solução negociada para o conflito.
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