Boulez foi dirigir a orquestra no Centro Cultural de Barbican, em Londres (não tenho aqui o nome em inglês, mas é um lindo centro este, perto da Barbican Station do Underground londrino).
Boulez foi apresentar Mahler e uma peça de sua autoria. Ele é, de facto, excepcional.
O único problema de Boulez - de Boulez não, mas sim de algumas pessoas que foram vê-lo - foi sentarem-se perto de mim e da Carol.
Eu e a Carol e muitos dos meus primos temos já um "cadastro". Se ficassem fichadas a quantidade de vezes que, quando estamos juntos, temos vontade de rir em lugares inoportunos, certamente teríamos sido barrados, logo na entrada do concerto.
Porém, em Barbican não tinham conhecimento do nosso cadastro.
Com a agravante de eu e a Caro estarmos 12 anos longe um do outro.
Ora, Boulez usou uma arma pesadíssima. Tocou uma destas peças de música moderna, de sua autoria. Daquelas que são demais para a minha cabeça e para a cabeça de muitas pessoas que eu conheço. Aquelas peças que parece que cada um está tocando separadamente e que o resultado é só barulho. Bom, não é preciso me criticarem - eu falei ali em cima que é a minha cabeça, acho que muita gente entende esta musicalidade. E também tenho noção, porque já ouvi uma pessoa me explicar, que este tipo de som é um grito de revolta contra a nossa concepção musical.
Sem ironia, acho este último ponto muito interessante e tenho pena de não compreender muito bem esta música.
A tudo isto acresce que eu e a Caro estavamos muito bem dispostos e felizes.
Então, o concerto começou logo a matar, com a tal música (felizmente a única deste conceito).
Estavamos mais ou menos a meio da música quando eu e a Carol trocamos um olhar cheio de sorrisos (se é que um olhar pode conter sorrisos).
"Parece música de desenhos animados", disse a Caro. Eu disse: "Pois é, não tinha pensado nisso". Sorrisos.
Mais um pouquinho e foi dado o mote dos risos, não tendo mais havido condições para se segurar mais: "A música, quando parece que vai acabar, começa de novo".
Foi aqui que tudo começou.
Os risos abafados, o corpo chacoalhando, as pessoas olhando os dois que, de tempos a tempos, pareciam estar com um enfarte do miocárdio.
E, a cada vez que a música parecia que ia terminar e a seguir voltava com mais força, a reacção era igual nos dois. Fazíamos força para parar, sentíamos que estavamos sendo incovenientes, mas não era possível.
Após esta peça, um intervalo foi feito e depois tudo seguiu na grandiosa normalidade de Mahler. Mas, as pessoas que estavam mais próximas de nós, haviam mudado de lugar.
Não consigo entender porquê.
O certo é que, como eu comentei com a Caro e expliquei ao Markus (ele ficou muito envergonhado connosco, imaginem só, é um rapaz alemão) da peça de Boulez pouco nos ia restar, mas as nossas risadas incovenientes iam perdurar no tempo.
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