Lá, vai jogar junto do Ronaldo Nazário, Serginho, Kaká, Cafu e Dida. Ou seja, junta-se a meia selecção brasileira.
Desculpem lá, mas o rótulo que vou dar para este post não é só "desporto".
O marcador que vou pôr também é "imigração".
Tais imigrantes, felizmente para eles, saltam com facilidade os muros.
Só que isso acontece porque têm bons pés e fazem os cidadãos dos países de acolhimento, neste caso a Itália, gritar gol. Por isso, são logo tratados como príncipes. São cidadãos de Roma e não meros peregrini (estrangeiros). A estes últimos se aplicava no Império Romano um direito especial, tal como se passa hoje em dia.
Por dia, dezenas de estrangeiros não conseguem entrar num aeroporto, não conseguem entrar num país. Nunca são notícia. Porém, se isso acontece com um jogador, a notícia corre o mundo e é um escândalo.
Fazer gols (ou golos), hoje em dia, é mais reconhecido do que trabalhar nas fundações das infra-estruturas de um país, em pontes, aeroportos. Ou mesmo na hotelaria e restauração.
É caso para dizer: imigrante sofre, mas só os imigrantes empobrecidos. Estes podem trabalhar, contribuir para o país, mas mesmo assim, têm muita dificuldade em aceder a direitos. Pior ainda se não estiverem regularizados. Neste caso, ainda que se esfalfem para uma entidade empregadora do país de acolhimento, nem a mínima parte da integração, um visto, um estatuto jurídico, conseguem. A não ser se regressarem ao país de origem. Nestas condições de irregularidade, em Portugal, não estão 100, nem 200, nem 1000 pessoas. Estão pelo menos 100.000.
E atenção que são 100.000 trabalhando. Fazendo os seus gols, só que em outros campos.
Mas estes, mesmo que sejam os melhores marcadores servindo ao balcão, ou fazendo comida, ou montando um andaime, ou fazendo as tais fundações das infra-estruturas, têm de regressar ao país de origem para ter o seu visto de trabalho. Mesmo que os seus patrões queiram muito eles aqui. Tais imigrantes também não são notícia quando são corridos do país de acolhimento, ou quando são despedidos sem justa causa e sentem medo de ir ao Tribunal, ou quando lhes roubam a bolsa e não fazem queixa na polícia, por ter medo de receber uma notificação para abandonar o país. Os imigrantes irregulares, mesmo os mais integrados, padecem com estes enormes detalhes, não-direitos, em todo o mundo. Falo da realidade portuguesa por ser a que conheço melhor. E falo de como os emigrantes irregulares portugueses no Canadá sofreram com o acabar das suas vidas estáveis neste país, por não terem um documento, e como sofreram há 40 anos para chegar e estabelecerem-se em França. Tudo tão longe, mas tão recente.
E lembro ainda da actual saída de 150.000 jovens portugueses que têm procurado uma melhor vida em outros países do mundo e na exploração e até escravatura que por vezes sofrem. Tudo tão difícil para os migrantes.
Quanto aos vistos, regressar ao país de origem com facilidade e com a certeza de o receber um título que permita trabalhar, isso só o Pato e seus colegas conseguem fazer.
Evidentemente que estas considerações não afectam todo o carinho e a admiração que sinto por Pato. Mas diga-se que também está na hora dos desportistas lembrarem-se destas coisas quando festejam golos nos estádios. Porquê não levar em baixo da camisa do time uma que diga "também sou migrante", ao invés das habituais "amo-te fulaninha" ou "beba xpto"?
Seria importante, sabendo como o futebol influencia e chega às casas de todos.
As federações desportivas não permitem? Ora deviam permitir, pois isso seria uma forma de lembrar a importância que os imigrantes têm nos países de acolhimento, e falo agora especialmente na União Europeia, em ano europeu de igualdade de oportunidades para todos e em vésperas de ano europeu do diálogo intercultural.
Voltando ao Pato, nossa estrela, que ainda não fez 18 anos, que foi o mote inicial do meu já enorme post, ele faz parte da colecção de heróis que tenho guardada em meu coração.
Com ele, o meu querido Internacional de Porto Alegre, o time do povo do Rio Grande do Sul, alcançou os seus maiores feitos: a Libertadores da América e a super vitória frente ao Barcelona (um super Barcelona, diga-se, favoritíssimo, com Ronaldinho Gaúcho, Eto'o, Deco e as mais poderosas individualidades), na Taça Interclubes Toyota-FIFA (não só Toyota) fazendo do Colorado o campeão do mundo.
Por isso Pato, não só perdoo a tua saída, como ainda te desejo os maiores êxitos no Milan, com excepção dos jogos frente ao Inter de Porto Alegre e ao Benfica.
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