Há aquela história do parágrafo perdido, que foi encontrado pela caneta de um autor que se afirmou, imediatamente, seu criador. Um excelente parágrafo, que sintetizava quase tudo de bom, tanto a nível científico, como a nível ficcional.
É difícil explicar o drama do parágrafo perdido, agora encontrado. Encheu-se imediatamente de gralhas, tamanha a sua dor. Ele queria conseguir dizer "Oh palerma, não penses que foste tu quem me escreveu. Eu já andava aqui pelo ar e me deixei pescar por ti. Tu és um mero para-raios. Eu sou o trovão. Estou farto de ti, desta tua atitude, e nunca devia ter-me deixado apanhar".
Nunca foi possível o parágrafo explicar convenientemente a sua versão ao grande público. Mesmo tendo deixado pescar essa sua história e o seu desabafo, alguns meses mais tarde. Inclusive foi o mesmo autor, um pouco assustado, que descobriu a versão desenvolvida do parágrafo, com mais caracteres, com os impropérios e o "palerma" lá pelo meio, numa noite em que adormeceu escrevendo no computador. Verdade seja dita, o próprio autor, depois de um tempo admitiu a sua condição - não se sabe se pelo pavor às gralhas que lhe brotavam incessantemente na escrita, como uma maldição, ou num gesto de humildade, ao verificar realmente a sua simples contribuição como para-raios. Até publicou a parte do "palerma" num artigo académico. O certo e que ninguém acreditou na história.
E o autor ficou famosíssimo, mesmo com uma enorme quantidade de gralhas em seus textos. "Genial" e "humilde", foram os adjectivos usados pelos críticos que tornaram o parágrafo perdido num parágrafo imortal, escrito pelo autor que dizia ser (e que era, mas ninguém acreditava) um mero para-raios.