quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A não contradição da capa da Veja


É interessante esta capa da Veja. Literalmente, sob a capa de contradição apresenta-se a opinião de Dilma, que, sendo essa (pegando só nas duas frases), mesmo que ditas a dois tempos, têm uma certa coerência. Poderiam (quem é a favor da criminalização do aborto) atacá-la por ser a favor da descriminalização do aborto e não por haver contradição de posição baseada nessas afirmações.
Nos jogos políticos e demagógicos do debate da penalização ou não do aborto (aqui ainda mais prejudicados pelas eleições presidenciais), os argumentos são sempre bastante truncados, como essa capa da Veja, aliás. Exacerbam o medo, ao invés de promoverem um debate que tendesse a ser esclarecido.
Porque a verdade é que é perfeitamente possível que uma pessoa seja a favor da descriminalização do aborto e que, ao mesmo tempo, para si, para a sua consciência, seja contra o aborto.
Simplesmente, por uma pessoa ser contra, não quer dizer que as mulheres, sublinhe-se que são as mulheres mais pobres (porque as ricas podem viajar e fazer o aborto num outro país), que tenham de fazer essa opção dificílima, devam ser punidas criminalmente por abortar. São duas coisas completamente diferentes.
Enfim, Portugal já passou por este debate. A legislação melhorou. Pode-se interromper a gravidez até às 12 semanas. O mundo não ruiu. Simplesmente já não há mais mulheres a fazerem abortos clandestinos (e a morrerem neles) e não há mais mulheres humilhadas em processos criminais por terem tomado uma decisão que nunca é fácil.

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