sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O parágrafo entristecido e o escritor genial

Há aquela história do parágrafo perdido, que foi encontrado pela caneta de um autor que se afirmou, imediatamente, seu criador. Um excelente parágrafo, que sintetizava quase tudo de bom, tanto a nível científico, como a nível ficcional.
É difícil explicar o drama do parágrafo perdido, agora encontrado. Encheu-se imediatamente de gralhas, tamanha a sua dor. Ele queria conseguir dizer "Oh palerma, não penses que foste tu quem me escreveu. Eu já andava aqui pelo ar e me deixei pescar por ti. Tu és um mero para-raios. Eu sou o trovão. Estou farto de ti, desta tua atitude, e nunca devia ter-me deixado apanhar".
Nunca foi possível o parágrafo explicar convenientemente a sua versão ao grande público. Mesmo tendo deixado pescar essa sua história e o seu desabafo, alguns meses mais tarde. Inclusive foi o mesmo autor, um pouco assustado, que descobriu a versão desenvolvida do parágrafo, com mais caracteres, com os impropérios e o "palerma" lá pelo meio, numa noite em que adormeceu escrevendo no computador. Verdade seja dita, o próprio autor, depois de um tempo admitiu a sua condição - não se sabe se pelo pavor às gralhas que lhe brotavam incessantemente na escrita, como uma maldição, ou num gesto de humildade, ao verificar realmente a sua simples contribuição como para-raios. Até publicou a parte do "palerma" num artigo académico. O certo e que ninguém acreditou na história.
E o autor ficou famosíssimo, mesmo com uma enorme quantidade de gralhas em seus textos. "Genial" e "humilde", foram os adjectivos usados pelos críticos que tornaram o parágrafo perdido num parágrafo imortal, escrito pelo autor que dizia ser (e que era, mas ninguém acreditava) um mero para-raios.

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