segunda-feira, 3 de janeiro de 2005

Um outro Mundo é possível

Quando eu ponho esta frase, sem a interrogação no fim, ela passa a ser falsa para o meu cérebro. Parece que falta qualquer coisa.
Como acabei o último post desejando que eu passe a acreditar que um outro Mundo é possível, quero fazer aqui um desabafo. Para tentar me fazer entender, uma vez que sempre que digo um outro Mundo não é possível, me contrapõem com um "não digas isto".
Eu não digo isto por gostar de pensar que um outro Mundo não é possível. Essa ideia, pelo contrário, entristece-me, perturba-me, corrói-me.
Como me entristeceu ver Buena Vista Social Club, no fim de semana passado, que me pareceu um exacerbar da pobreza. Digo pareceu, porque parei de ver a meio e não sei se melhorou no fim. Entristece-me que alguém pense, enquanto vê o filme: "vejam como eles são pobrezinhos, mas cantam como ninguém". Entristeceu-me muito ver aquelas pessoas na lama, mas felizes. E com os santinhos. Resignadas. Acabadas.
Uma série de pensamentos contraditórios que me fazem chegar a uma conclusão: um outro Mundo não é possível.
Mas quando eu digo esta frase, que para mim é terrível, tal como para as outras pessoas, eu quero dizer é que só com um grande exercício de abstracção, com uma grande teoria e com uma enorme fé num total virar de página de todo o comportamento de todas as civilizações da Terra, é que um outro mundo é possível. Uma utopia.
Quero dizer é que um outro Mundo não é passível de execução. Execução de um novo Mundo só é possível com outro sentido, como um fuzilamento de um Mundo de igualdade que fizesse uma tentativa de surgir.
Penso que a exploração do homem pelo homem sempre vai existir. Sempre alguém vai querer tirar vantagem do outro. Sempre vai querer guardar mais para si.
E, para ser diferente, só havendo um controle estatal. E este estado, mobilizado por pessoas de carne e osso, vai cometer, como todos até hoje cometeram, injustiças e desvios.
Enfim, devo pensar que um outro Mundo não é possível por não acreditar muito na natureza humana.
Mas acredito em certas coisas claro.
Acredito que poderia haver mais distribuição de riqueza. Acredito que poderia haver um pouquinho mais de vontade de não deixar a África esquecida no Mundo e entregue a tantas privações.
Mas também acredito que a forma dos países ricos tratarem deste assunto, passará sempre pelas doações e esmolinhas e nunca pela promoção do desenvolvimento destes países.
E agora, depois deste testemunho de falta de fé, vou proferir, ainda que sem convicção, esperançado de que na escrita repetida eu encontre o verdadeiro sentido, vou falar em alto e bom som que: um outro Mundo é possível!

2 comentários:

Nanda disse...

...é como eu estava comentando no blog do Thiago... esse mundo é um mundo cão mesmo... Então, temos que reconstruí-lo... é possível sim, um outro mundo!

GWB disse...

Gosto do teu otimismo Fernanda.