sexta-feira, 12 de março de 2010

Calendário


Ele entrou um dia naquele café cheio de gente. Desatou a conversar. Fez amigos. Começou a ir lá mais horas por dia. Dinamizou algumas coisas. Criou umas sessões de debate no café. Trouxe gente nova. Teve que se dedicar mais. Depois, perante algumas hesitações dos presentes, encontrou mais alternativas para aquilo continuar bom. O café cresceu. Começaram a perguntar mais vezes por ele. Ele estava em algumas mesas, em todas era impossível. Foi sendo cada vez mais preciso. Tornou-se supostamente imprescindível. Todos precisavam dele para acertar os calendários. Ele ficou sem um calendário para si. No início realmente não lhe fazia falta. Esticou a corda, saltou para a frente, avançou, se esforçou, aprendeu a surpreender os seus limites - aqueles que achava que existiam.
Um belo dia ele começou a parar para pensar mais vezes sobre aquilo tudo. Era isso, mesmo que tão bom, que queria para sempre? Não sabia. Já não tinha certeza de nada. Precisava parar tudo, para ver como era a vida sem tudo aquilo. Precisava de umas férias prolongadas para renovar-se, renovar as suas ideias, pensar, viajar, reciclar. Ir para Buenos Aires, Paris, Roma, ver outros cafés. Aquele na Lima e Silva com a Rua da Rosa, por exemplo. Ir a debates que não fosse ele a organizar. Gozar os calendários.
De uma coisa ele tinha a certeza. De uma forma geral, tudo tinha sido fantástico. Tão bom que seria extraordinário guardar assim na memória.

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