Hoje resolvi escrever sobre um assunto mais leve, tentando passar ao lado de tudo o que se passou nesta semana. Vou fingir que não ouvi o Durão Barroso no Parlamento, todo aflito com o que lhe foi posto à consideração. A tentação é grande, mas queria falar sobre um assunto que me desse muito gosto em partilhar com o meu blog.
Vou para um âmbito de enorme subjectividade. Admito que nem todos pensem como eu, no entanto, o egoísmo dos blogs permite que façamos este tipo de dissertações sem que sejamos interrompidos. Porém, cabe lembrar o link, ali à direita, que diz "fale com a aldeia" e que faculta às pessoas o acesso ao correio electrónico da Aldeia.
Que introdução tão enorme!
O assunto é: que bom que a Expo 98 deixou-nos aquele maravilhoso espaço ao pé do rio.
É impressionante esta "nova" Lisboa ter surgido, como que por milagre. Eu não me lembro do que estava lá anteriormente, devo ter passado algumas vezes, mas não as suficientes para a retina me deixar guardado na memória esta informação. Sei, porque ouvi falar, que antes estavam lá, activadas ou não, indústrias pesadas e fábricas.
Certo é que hoje em dia Lisboa possui esta linda herança da Expo.
E o mais fantástico é aquele rio que parece que nunca mais acaba. Eu sei que o rio já lá estava, mas este se valoriza, consoante o sítio a partir do qual observamos. Vários sábados e domingos já peguei nas minhas pernas e fui olhar o para o rio, nem que seja por dez minutos. É verdade, não é trova (como se diz muito no Rio Grande do Sul). Faço isto já pelo menos há dois anos. Provavelmente duas vezes por mês, em média. Chego pelo Centro Comercial, passo por aquelas árvores altas, que apenas conversam com o vento, vou até ao rio e viro à esquerda. Além da beleza do rio, há uns jardins muito bonitos. Sei que tudo deve ter um nome, mas nunca me interessei. Não sei o nome de nenhum café ou restaurante ali, porque só presto atenção ao rio, aos jardins e à música dos meus fones.
Estarei cometendo uma injustiça, se não referir o Oceanário e a Ponte Vasco da Gama, duas obras que, cada uma a seu modo e a seu lado, fazem o espaço ainda mais encantador.
Por vezes fico um pouco mais tempo, lendo um livro. Aliás, os meus acompanhantes são apenas os livros ou os jornais, sendo que muitas vezes eles não saem de minha mochila, limitando-me eu a olhar a paisagem - interpretada num sentido muito restrito de rio e jardins.
Uma vez fui lá com um caderno e uma caneta, escrevi meia dúzia de páginas. Foi engraçado. Ficavam pessoas a olhar para mim, como se eu fosse um extraterrestre. As canetas e os cadernos, felizmente, são objectos suficientemente vulgares, para as pessoas os considerarem atraentes.
Como não quero manchar a conversa, não vou me estender no desabafo de quanto me preocupa a possibilidade do lobbie do betão tomar conta daquilo tudo. Nem quero lembrar se o Tejo podia estar mais ou menos asseado.
É bom e pronto.
Além disso tudo, não sei porquê, esta zona de Lisboa me lembra muito Porto Alegre. Não sei porque mesmo, porque não me recordo de nenhum lugar em Porto Alegre que seja parecido. Enfim devem ser "razões que a razão desconhece". Não sei se é por ser um espaço amplo... Fico aqui a pensar, mas não encontro motivo. Mas não importa.
Interessante eu pensar que se parece com Porto Alegre, porque logo que eu cheguei em Lisboa, tinha eu onze anos, achei que esta era uma cidade muito muito (a repetição é propositada) triste.
Por outro lado, a beira do rio, que está muito bem arranjada, com alguns miradouros, é um local privilegiado para os "pombinhos" namorarem. Eu, por minha parte, sempre fui lá sozinho e não sei se alguma vez levarei mais do que meus livros...
Não vá o rio ficar com ciúmes...