quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Viagem

Quando o taxista me disse "eles saem lá da prisão muito pior do que entram", que "já saem numa quadrilha" eu já queria desconversar. Mas ele fez bem em insistir. Ele me disse coisas que eu achava que ele ia dizer ao contrário. Defendeu que as prisões não servem para nada. E que "tinha que ser como na Holanda".
Ainda que a Holanda dele não seja igual ao que a Holanda é, a idealização é assim:
Lá a droga é vendida pelo Estado, que a limita. Assim os narcotraficantes lá não tem dinheiro, força, influência e poder. Ele admitiu que o tráfico não é a única coisa que leva as pessoas à prisão, mas disse que "ajudaria" ser o Estado vendendo e que as drogas fossem discriminalizadas.
Um taxista que faz generalizações com ideias de esquerda é uma boa notícia.
Me surpreendeu mais ainda quando, com outras palavras, falou sobre o pessoal que é preso por delitos menores e depois fica com a sua vida completamente desgraçada depois que sai da prisão, depois da experiência de estar lá. Aqui ele foi bem concreto, deu muitos exemplos.
É interessante esta conversa ter surgido da iniciativa dele. Penso muito sobre isso aqui em Porto Alegre. Sobre a violência que existe e as fórmulas de resolução baseadas em segurança, repressão, distanciamento, separação. É certo que a solução de curto prazo e só de curto prazo passa pela segurança. Tudo certo. Mas não serve para nada, para nada mesmo, se não se for construindo o que tem de ser: prevenção, educação, distribuição, igualdade. E ajudaria muito se todos aqueles que mandam, que estão no topo da escala social, tivessem um comportamento que se pautasse pela ética e pela honestidade, sempre.
(e esta conversa do fim todo o mundo sabe, não sei porque escrevi)

2 comentários:

Mari disse...

Tenho um forte palpite de que esse taxista já vivenciou o Estado Penal de perto, para ter chegado a tais generalizações de esquerda. Porque em geral as generalizações são muitas e SEMPRE de direita...

Anónimo disse...

Quanto àquela tua última frase entre parênteses, eu sei o motivo. É porque o óbvio tem que ser dito.