sábado, 17 de setembro de 2005
Eu e Roma
Hoje, desde acordei, só conversei com uma pessoa: um ex-comandante (que não revelou o seu nome até agora, na página 212!) que prestava serviço a Gaio Calígula (era seu braço direito). O oficial em questão está me contando a história de Roma com Calígula no poder. E quem coloca a história de Gaio na boca do comandante é Allan Massie.
Nem tudo na escrita de Massie me seduz. Acho que às vezes tem um estilo muito "best seller".
Porém, não posso deixar de agradecer as aulas de história que me deu, ainda que com muito de ficção pelo meio.
Quando comprei "César", do autor referido, nunca pensei no que ia acontecer. Mas aconteceu.
Li umas 30 páginas e no dia seguinte pedi à minha mãe como presente de aniversário os restantes livros de Allan Massie sobre imperadores romanos, nomeadamente, "António" (que é o Marco António), "Augusto" (que é Otávio) e "Tibério". Li-os todos de uma assentada, fazendo uma pausa com algum livro "normal" pelo meio. Desde então tocou-me a febre pelos romances históricos sobre Roma, fazendo eu a leitura de algumas obras.
A seguir aos livros citados, li "Memórias de Agripina" e "O Processo Nero", de Pierre Grimal, que sublinhe-se é um enorme historiador, com imensos escritos, técnicos, sobre Roma. E esta técnica é vertida nos dois livros, que são excelentes. É uma leitura que prende menos do que a de Massie, mas que é mais rica em detalhes, em minha opinião. Digamos que usa menos o artifício do romance histórico e envereda-se mais pelos detalhes históricos.
Depois de Grimal, acabou por aparecer na Fnac, lembro-me bem, o "Eu, Cláudio", de Robert Graves, autor de quem dizem que Massie é o sucessor (um dos motivos é o facto de ambos serem escoceses).
Mas da leitura conjunta destes 3 autores, acabou por acontecer algo que acabou por me fazer ficar mais apegado ao tema: o facto de eu sentir que estava a aprender história. Das várias versões que resultavam da escrita dos autores das memórias, resultavam os mesmos factos. Objectivamente idênticos, subjectivamente díspares. E foi com alguma satisfação que ao folhear "A Vida dos 12 Césares" de Suetônio e "Os Césares" de Ivar Lissner, constatei que a leitura dos livros de ficção não representavam apenas a compulsão pela leitura de livros de romances e intrigas de uma família turbulenta e corrompida, mas haviam factos históricos que eu tinha aprendido de maneira prazerosa. Claro que não se aprende a história toda de uma vez e é óbvio que nem toda a história se conta nesta literatura. Mas se a pretensão fosse outra eu estaria lendo livros técnicos sobre a matéria ou fazendo um curso de história antiga.
No âmbito desta leitura prazerosa e produtiva (ainda que apenas para fins individuais) acabei por ler "As memórias de Pôncio Pilatos", de Anne Bernet. Pilatos foi procurador na Judeia, servindo o imperador Tibério. Então, logo em seguida, li "O Evangelho segundo Pilatos", de Eric-Emmanuel Schmitt e, felizmente, acabei por desembocar no "Evangelho segundo Jesus Cristo", do inigualável e genial José Saramago. E com Saramago fechei com chave de ouro, e muitos sacrilégios e pecados de Jesus pelo caminho, esta fase "tiberiana", tentando ouvir todas as suas personagens.
Confesso que com Saramago tudo mudou (obviamente) e andei perdido por outros livros. Vaguei por outros pontos da história.
Porém, havia um livro que eu tinha começado e que não tinha acabado: "Memórias de Adriano" de Marguerite Yourcenar, que recentemente até escrevi no blog acerca das impressões que me tinha causado. Adriano com o seu poder de persuasão, com a sua sapiência, com a sua pretensão em acumular conhecimento e experiência, arrastou-me novamente para o Império Universal que o mesmo tinha herdado. Tentou-me com a sucessão e apresentou-me a Marco Aurélio.
Marco Aurélio chegou-me através da escrita de Mário de Sousa Cunha. Acontece que Marco é, ainda, grande e maduro demais para mim. Tem muitas coisas a dizer. É preciso conversar com mais tempo na agenda, ter uma estadia mais prolongada em Roma.
E foi por isso que, encontrando Calígula em versão Massie, desta feita na Livraria Bertrand, tive de interromper a minha incursão junto de um imperador maduro e bom e voltei-me, temporariamente, para o que Roma teve de mais animalesco, brutal e tirano.
E o meu dia hoje está sendo assim, passado com Gaio Calígula.
Olhando para mim, em minha estante, estão Marco (esperando o meu regresso), "Cláudio, O Deus" (nas palavras de Graves) e "Pompeii" de Robert Harris.
Também encontram-se na prateleira, mas com menos esperança de nos próximos tempos poderem contar a sua história, "César" e "A Coroa de Erva", por Colleen McGullough e "Um Deus passeando pela brisa da tarde", de Mário de Carvalho.
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