sexta-feira, 21 de novembro de 2003

A Diversão dos Palermas

A diversão dos palermas: pegar na rapaziada recém chegada, mandar-lhes ovos, insultá-los, dizer que eles não pertencem ao sítio aonde chegaram, que são burros, e faze-los passar por situações ridículas.
Ai, ai.
Será assim tão bom? Tão fortificador do espírito?
Será que integra? Mas a integração tem de ser feita com medo, subordinação e hierarquia?
Vê o teu lugar! Não é esta a mensagem?
Acho que já sabem do que estou a falar. Isso mesmo, das praxes! A prática mais ignóbil dos estudantes universitários!
Eu sei que não se tratam de todos os estudantes universitários, mas todos temos culpa quando toleramos a praxe.
Eu fui praxado, como quase toda a gente. Para mim não custou muito, apesar do meu livro de Direito Romano ter ficado com um pingo amarelo, sujo com ovo. Não achei piada estar sentado à espera que um ritual absurdo terminasse, a pensar que ainda iam sujar todos os meus livros. Foi muito integrador estar na sala, vendo a hora que levar-me-iam para o palco, para fazerem-me passar por idiota. Tivemos de ouvir também vários discursos, preparados por escrito (perderam tempo com isso!), a nos dizerem todos os problemas que traríamos para a Universidade e que éramos uma bestas.
Agora, o leitor está a pensar: "Este rapaz queixa-se, mas nem lhe aconteceu nada de especial...".
Isto é que e grave! As praxes, de qualquer tipo, não deviam existir! Qualquer lesão à nossa integridade física ou moral nunca podem ser admitidas.
E para que fomentar esta ideia da praxe? Afinal, o que se ganha com a praxe?
Na minha praxe ainda quiseram tirar-me os sapatos, (!) que ser-me-iam vendidos (!) mais tarde (ainda que a um preço simbólico). Na altura, frisei que isto já era brincar demais e mantive-os em meus pés.
Alguma vez na praxe se fazem amigos? Eu não costumo conversar com pessoas que me mandam ovos na cabeça e molham minha cabeça com misturas contendo vinagre, para me pôr a cheirar mal.
Bem, mas como não acho graça nenhuma a estas coisas, tive alegrias. Não praxar, não andar a programar maneiras de ridicularizar outros estudantes, são exemplos disso.
Aquelas comissões de praxe! Que absurdo! Por sorte, a minha Universidade não tinha aqueles tontos, os "Dux", que são uns indivíduos que são os "chefes" da hierarquia. E tem umas capas!.. Minha nossa! São tão poderosos!
Tão bom como terminar com este exagero de propinas, tão altas, seria terminar com as praxes de uma vez.
Fiquei contente de ler, no Diário de Notícias, que há um conjunto de personalidades que, ao subscreverem um documento, o Manifesto Anti- Praxe, estão dando apoio à luta contra este abuso.
É necessário também enaltecer o trabalho do M.A.T.A. (Movimento Anti- Tradição Académica, de Lisboa), dos Antípodas (Movimento Anti- Praxe, do Porto) e de todos os movimentos ou indivíduos que se oponham às praxes e tudo façam para boicotá-las ou extinguí-las.
Seria tão bom evoluirmos, nos libertando destas práticas perfeitamente desajustadas com as Universidades, que são lugares que deviam servir para o aperfeiçoamento dos cidadãos.

1 comentário:

RJ disse...

A Praxe é como que uma religião. Muita gente a aceita desde o primeiro ano e a prega nos anos seguintes. Poucos a contestam.

Não sou totalmente anti-praxe, sou mais anti-praxes.

Há maneiras alternativas de se integrar um caloiro. O argumento da integração é completamente infeliz. Há quem entre na brincadeira e até se divirta, mas aposto que são poucos. E dos que não se divertem poucos o manifestam.