Uma das coisas mais difíceis nisso do viver é que só se as compreende na perfeição depois de se ter passado pelos momentos.
Na altura eu não compreendia o privilégio de estar ali, naquele palco, ou naquele, ou mesmo naquela festa naquele hotel, tocando.
As coisas pareciam ser tão normais. Mesmo um ensaio, tão normal, hoje faz falta. Havia dias especiais, quando nos reuníamos unicamente para tocar aquilo que nos dava mais gozo. Era uma força enorme.
Estava com pessoal que sentia o som que produzia. Sentia. Em qualquer acorde. Deixar-se levar depois de dar o primeiro acorde. A partir daí já não eramos nós a comandar.
Houve chatices também. Poucas. Ultrapassei-as. Sou bom nisso.
O que eu tocava e o que eu toco. Incrível. E tinha a cabeça cheia de sonhos, misturados. Muito mais vontade do que técnica. E não tinha vergonha. E como tinha tempo. Muito tempo. O curso prejudicado, a música exacerbada. Opção temporária, digna de um belo lugar na memória. Dois anos assim, um desastroso na faculdade.
Até que vieram as opções a sério. Todas convencionalmente correctas. Todas conscientes. Tenho gosto por isso tudo o que faço. Mas com aquela saudade e talvez algum vazio. A escolha foi fácil. Não devia ter sido. Escolho facilmente algumas vezes. Ando para a frente e não olho para trás. Não sei, na verdade, qual botão desliguei na altura. Algum foi e, provavelmente, fi-lo conscientemente.
Agora é preciso repor um pouco de música, colocar as coisas no lugar. Isso tem de ter conciliação com tudo o que faço hoje em dia.
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